domingo, 19 de junho de 2011

AUT(EU)TICIDADE DA REDE

“A questão da autenticidade da rede ultrapassa em muito a trivialidade deste divertido exemplo. No entanto, ele desde logo abre-nos variadas pistas. Quem são e como são verdadeiramente esses outros que encontramos na rede? Que são eles por detrás das máscaras que constroem na rede? Que somos nós de nós próprios na rede? Somos ou poderemos ser transparentes? São as imagens que de nós partilhamos autênticas? Que dizem de nós? Tudo? Nada.”


Segundo Giddens (2002), na modernidade, toda a identidade é construída num processo de constante reflexão. Bauman (2005) defende que as identidades, no mundo moderno, são cada vez mais passageiras, sendo submetidas a um ideal em constante mutação. A interacção social que decorre na Internet, alguma dela direccionada para fins específicos, é orientada a partir de perfis individuais, que se combinam formando redes sociais ou mesmo comunidades, como a do Facebook, por exemplo. As identidades construídas num ambiente virtual são fundamentais para orientar as interacções sociais que nela decorrem. Refira-se que tratando-se de identidades virtuais as mesmas na generalidade dos casos nada tem a ver com a identidade real.

Mas então esta reflexão, levanta-nos uma questão importante: Até que ponto somos autênticos, na rede?

A resposta não é fácil e à semelhança do mundo real, na internet, somos um prolongamento. Os dedos digitam o que o nosso cérebro comanda e dita. Apesar da não visualização do outro, parece-me que mantemos nesse contacto, a mesma aproximação e o mesmo distanciamento que imprimimos nas nossas atitudes e posturas diárias.

Por outro lado, devemos referirmo-nos à “segurança” na rede. Como sabemos, diariamente, somos confrontados com o problema de invasão de privacidade que a rede nos coloca. Quantos de nós já não assistiu ou já não recebeu mensagens electrónicas que, ou não eram dirigidas a nós, ou que nos chegam porque acederam às listas de correio electrónico com quem, a esse sim, demos esse direito? Quantos de nós já não foram “violados” no seu software e hardware?

As firewalls  e os antivírus não são eles um escudo que em última instância nos conferem alguma privacidade?

Somos ou poderemos ser transparentes? Na realidade, nem acho que somos, nem acho que possamos ser transparentes. A questão da transparência é discutível, mas de acordo com algumas leituras efectuadas, e em particular Goffman (2004) diz-nos que os indivíduos tendem sempre a apresentar-se tendo por base os aspectos que lhe são favoráveis, tentando manter o controlo das suas expressões e da informação que passam aos outros.

Corroborando esta ideia, então, a questão da transparência é muito relativa se só mostramos o que queremos mostrar.


BIBLIOGRAFIA

GOFFMAN, Erving (1993). A Apresentação do Eu na Vida de Todos os Dias, trad. Miguel Serras Pereira, ed. Original 1959, Lisboa: Relógio de Água.

GIDDENS, Antony (1990).. The Consequences of Modernity, Stanford (California): Stanford University Press.